Eletrônica para Makers: fantástica edição brasileira do livro no qual aprendi eletrônica
Tradução caprichada da 2ª edição do livro Make: Electronics.
Eletrônica para Makers é o livro que o iniciante em eletrônica como hobby deve ler, e que o entusiasta experiente também vai apreciar, porque as dicas práticas bem simples (e num estilo leve) vêm recheadas de comentários que ampliam, ilustram e contextualizam os tópicos que estão sendo expostos.
Por exemplo: o experimento que introduz os capacitores não se limita a explicá-los e exemplificar seu uso em um circuito simples; além disso, aproveita para apresentar fundamentos de técnicas de identificação de falhas em circuitos, e inclui um breve histórico de Michael Faraday, o homenageado na unidade farad (que expressa a capacidade de armazenamento dos capacitores), autodidata enquanto trabalhava como encanador, e que mais tarde foi o descobridor da indução eletromagnética, fundamental no desenvolvimento dos motores elétricos.
Outros capítulos e experimentos são similarmente recheados de informações complementares que tornam a leitura mais interessante. Por exemplo, não só cientistas do porte de Michael Faraday recebem menção especial; figuras interessantes como Charles Scribner, que inventou um tipo de conectorização até hoje presente nos conectores de guitarras e amplificadores, recebem o mesmo tratamento.
Outro diferencial do livro é que ele não começa com o já usual capítulo introdutório teórico, aquele que usualmente apresenta o que é o elétron, as polaridades, as fórmulas e diagramas da tensão, corrente, etc.
Sabe aquele tradicional capítulo inicial só com teoria e conceitos? Esse livro não tem!
Pelo contrário: o primeiro capítulo já é composto de experiências práticas, e é na explicação dos efeitos de cada experiência que vão surgindo, de forma gradual e bem-humorada (incluindo a eventual exploração do que pode dar errado, como a queima intencional de um LED, para explicar por que isso acontece), os conceitos teóricos, históricos e outros aspectos subjacentes ao que o leitor pode observar na experimentação.
E não pense que o ritmo é lento por causa disso: o livro tem 400 páginas e 34 experimentos, e antes de chegar no 10º deles o leitor já estará experimentando (e entendendo) a temporização com capacitores.
Em linhas gerais, o livro é assim dividido: no capítulo 1 fazemos experimentos bem simples com baterias, LEDs e resistores (incluindo potenciômetros). No capítulo 2, um pouco maior, entra em cena a comutação, por meio de chaves manuais, relés, capacitores e transistores. Quando esse capítulo acaba, o leitor já estará exposto a conceitos práticos bem interessantes (como capacitores de acoplamento, por exemplo), e terá montado um sintetizador de áudio – simplíssimo, é verdade, mas capaz de expor os principais conceitos envolvidos.
O capítulo 3 é curtinho, começa com uma exposição bem interessante, prática e ilustrada sobre uma série de ferramentas que permitem começar a sair das protoboards: ferro de soldar, soprador térmico, etc. – apresentados com imagens e descrição passo-a-passo de usos práticos, como unir 2 fios ou encurtar um cabo. Em seguida apresenta mais alguns circuitos relativamente simples, mas que apresentam conceitos que serão usados um pouco além: um led que pulsa no ritmo (aproximado) de um coração, e um alarme contra intrusos.
Eu pulei o capítulo 4, que trata de CIs, quando li pela primeira vez – e este foi um erro que até hoje eu lamento ;-)
O capítulo 4 é o mais longo do livro (só ele tem quase 100 páginas), e é o que eu pulei quando li o Make: Electronics pela primeira vez (porque queria passar pelos aspectos programáveis dos microcontroladores antes de dominar o emprego básico dos CIs), mas não recomendo que ninguém pule, porque acabou me fazendo falta logo depois. Ele trata do básico da construção de circuitos com chips, começando (longa e detalhadamente) pelo essencial 555, passando por contadores, controladores de displays de 7 segmentos, portas lógicas, etc. O capítulo ainda aproveita para apresentar tabelas de várias grandezas úteis, ilustrar como melhor soldar componentes em placas perfuradas, explicar o histórico e conflitos entre TTL e CMOS, e mais.
O capítulo 5 fecha o livro e é uma leitura prazerosa, embora seja aquele típico balaio de variedades que outros livros apresentam na forma de apêndices. Ali encontramos mais alguns experimentos (magnetismo, filtro de frequências, rádio, etc.) que exemplificam alguns conceitos pelos quais o leitor pode querer enveredar ao final da leitura (incluindo a programação de um Arduino), dicas de organização da bancada, recomendações de outros livros, e mais.
Além do conteúdo excelente, é preciso elogiar a forma, e em especial o capricho na tradução. O livro é repleto de diagramas e ilustrações feitas pelo próprio autor, e muitas delas incluem anotações do próprio autor – que constam traduzidas, e bem diagramadas, na versão brasileira.
Para concluir, não posso deixar de compartilhar que, quando comecei a escrever este site, narrava os primeiros passos e experiências da minha própria jornada de aprendizado. Se você comparar os primeiros posts aqui do BR-Arduino com as experiências propostas no livro de Charles Platt, verá que muitas delas são idênticas ou muito semelhantes – e não é por coincidência: meus primeiros passos foram guiados pela edição em inglês desse livro.
Em resumo: tenho orgulho de ter conversado mais de uma vez com o dono da editora Novatec para sugerir e insistir que eles produzissem uma tradução desse livro fantástico. Ele se convenceu, e o resultado ficou ótimo. Recomendo que você o leia.
Serviço:
Eletrônica para Makers
Um manual prático para o novo entusiasta de eletrônica
Autor: Charles Platt
ISBN: 978-85-7522-525-7
Ano: 2016
Páginas: 400
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