One Dollar Board: entrevistamos o criador, que conta detalhes sobre o projeto da placa de US$ 1
Placa baseada no ATtiny85 tem um objetivo ambicioso: ajudar a levar a eletrônica e a programação a todas as salas de aula.
A One Dollar Board é uma placa de desenvolvimento com as dimensões aproximadas de um cartão de crédito, oferecida via crowdfunding, e que – na condição de hardware livre – tem um objetivo ambicioso: ser parte da mudança de paradigma que permitirá, nos próximos 15 anos, que toda escola dos países em desenvolvimento tenha em seu currículo aulas de eletrônica e programação, usando dispositivos similares a ela, que possam ser fornecidos por qualquer empresa interessada.
Os objetivos a curto prazo não são menos ousados, e incluem captar – via crowdfunding –, nos próximos 2 meses, os US$ 50.000 necessários para os passos iniciais do projeto, incluindo a infraestrutura necessária aos seus bastidores (conteúdo, servidores, etc.), o registro de um USB ID oficial (para o reconhecimento automático pelos sistemas operacionais atuais) e, claro, para entregar as primeiras 50.000 plaquinhas a quem se dispuser a contribuir.
A proposta é a primeira de uma série de placas já planejada, e que foi apresentada sob uma descrição interessante: “a placa de desenvolvimento baseada em ATtiny85 mais barata do mundo”.
A campanha de crowdfunding deixa claros alguns aspectos: preço de US$ 1 por placa, previsão de envio em outubro, compatibilidade com Arduino, e o objetivo de revolucionar a educação, promovendo a programação a uma matéria tão presente nas escolas quanto a matemática e a geografia.
O Cláudio Olmedo, que é o proponente inicial do projeto, concedeu a entrevista abaixo ao BR-Arduino.org, e nela falou sobre a One Dollar Board, os outros modelos que já estão em projeto, aspectos técnicos como o bootloader e o que significa ter um USB ID oficial, e a relação entre o empreendedorismo e a sua atitude pró-Hardware Livre.
Para ele, o objetivo definitivo é que milhões de pessoas se unam a nós, interessados na cultura maker e aptos a aplicar a eletrônica embarcada, e na entrevista a seguir ele deixa isso muito claro.
Somos 3 sócios na empresa: eu, Claudio Olmedo, CEO, ativista do Hardware Livre e o Movimento Maker; Marcus Vinicius Salarini, Sócio Administrador, estudante de Administração da UDC; e Paul Houang, sócio investidor chinês de Hong Kong, formado na universidade da California.
Além disso, há mais 72 voluntários, distribuidos em várias equipes, entre elas: Vídeo, Front End, Back End, PCB, Bootloader, Audio, Marketing, Relações Públicas... As equipes são organizadas da seguinte forma: não pode superar 4 pessoas. Há 1 coordenador por equipe, ao qual tenho contato direto, e mais 3 integrantes. Todos os voluntários trabalham pela causa, sem remuneração.
Temos parceria com uma empresa chinesa, que temos participação acionária para a fabricação.
Sim. Alguém tem que sair do grupo para outro entrar. E tem que ser de forma expressa, via e-mail. Todo o projeto é open source, ficando o repositório disponível para o próximo entrar e poder continuar. Há um Coordenador Geral encarregado de gerenciar.
Desde o começo do projeto nós tivemos voluntários, mas não tínhamos esse sistema no começo. Fomos testando várias formulas. Porque tem muita gente que se cadastra para voluntário, mas desaparece na execução.
Temos um objetivo para 2030: que em todas as escolas dos países em desenvolvimento esteja presente uma placa similar à que estamos fazendo, para que exista uma aula de programacao e eletrônica. Por exemplo, que exista uma aula em que um professor vai explicar como fazer acender o LED, depois evolui para mexer com uma ponte H, etc. Como você e eu sabemos, isso muda a vida das crianças.
O projeto é totalmente open source, então nosso objetivo é que um dia sejam feitas aquisições em grande volume, em que um órgão responsável pelos currículos escolares publica um edital de especificações, e qualquer empresa vá poder fabricar e entregar. Tudo que fazemos tem uma razão.
O que realmente importa é a plataforma educacional e o ecossistema. Continuando com o projeto, vamos recrutar voluntários pelo mundo para ensinar. Neste momento o nosso objetivo são pessoas como você e eu, que já entendem da mudança de paradigma que causa em uma criança ao se iniciar piscando um LED, e depois fazendo um robozinho. Precisamos do cadastro do público maker para logo continuar a revolução.
Na minha experiência como palestrante e incentivador do Hardware Livre, o nosso principal problema é que, diferente do software, onde o ativista coloca o link do repositório ou link para baixar o aplicativo, no hardware não conseguimos fazer isso.
Tudo começou, quando em 2015 fui dar uma palestra na Campus Party SP (CPBR8). Eu tenho uma loja que vende Arduino, e pedi para minha vendedora dar alguns deles para sortear na palestra. Ela falou: “Claudio, é o seguinte, você já retirou 3000 dólares dando de presente, nós não vamos poder continuar assim, senão você quebra”.
Antes do evento, a vendedora falou: “Claudio, é o seguinte, você já retirou 3000 dólares dando de presente, nós não vamos poder continuar assim, senão você quebra.”
Então fui ao evento com isso na cabeça. Lá na Campus Party, onde a gente fica meio acelerado, você sabe como é. Surgiu a ideia, pedi para um cara fazer o desenho inicial, perguntei para ele: “cara quanto você vai cobrar?” E ele falou: “cobrar, tá doido é muito simples, vou ser voluntário”.
Assim surgiu o primeiro voluntario. E o cara que estava ao lado, que ganhou o prêmio de Internet das Coisas (da Intel) nesse ano, falou: “Cara, isso muda o mundo”.
A única coisa que queria era substituir os 3000 dólares (mencionados pela vendedora) por 3000 placas, que atingiriam 3000 pessoas. Mas ele falando isso, vi que isso realmente muda o mundo.
Especialmente quando ele falou que dá palestra para crianças e que, em uma turma de 50, ninguem leva para casa para praticar. Ele consegue umas 5 placas, mas depois da aula as traz de volta. Com o One Dollar Board, ele vai ter 50 placas para doar, porque 50 dólares em patrocínio ele consegue em qualquer padaria.
Então, você entende.
Que aparecemos neles. Esperávamos estar somente no crowfounding e no máximo conseguir doações para patrocinar post no facebook, e pedir para o pessoal compartilhar. Não estávamos pensando nisso. Como a placa é muito simples, pensamos que esses sites nem iam ligar – apesar de ser a placa de desenvolvimento baseada em Attiny85 mais barata do mundo. Tipo, você compraria para um projetinho de robô baratinho, ou colocar o ESP8266 e usá-lo, já que a placa custa barato, e já vem com terminais e expansões.
Acho que ainda não entenderam o projeto. Estamos procurando uma forma de explicar melhor que não é voltado para nós (me incluo), é para iniciação de pessoas que nunca conheceram o que significa fazer piscar um LED.
O projeto é para iniciação de pessoas que nunca conheceram o que significa fazer piscar um LED. Queremos levar essa experiência para milhões de pessoas no mundo.
Queremos levar essa experiência para milhões de pessoas no mundo. Claro que depois de você fazer piscar o LED, colocar uma ponte H nele, vai chegar um momento em que você vai querer comprar um Uno, um Mega, um Edison. Mas daí você já estará dentro desse mundo, o que é o proposito do projeto. Então esperamos com isso que a venda do Arduino Uno, e outros, vá se multiplicar.
Sim. Então nessa fase de revolução somos nós que vamos comprar, e tentar convencer os outros de que isso é legal.
Como experiência te digo – você fala para teu amigo programador: "cara esse negócio de Arduino é o futuro, programa aí", daí ele fala que é coisa de engenheiro. Daí você manda o link para ele comprar, mas 21 dolares ele acha caro, daí você manda um link do Aliexpress, e nada. Mas se a peça custar um dólar, você mesmo compra várias.
Já temos pessoas trabalhando nas versões seguintes, utilizando o STM e o ESP-01. O tema é que vimos que vamos precisar de um orçamento de 85.000 dólares para gerar a plataforma complementar, então decidimos lançar a versão 1 urgentemente.
O que mostramos no video é o Beta3, e o que os voluntários estão preparando é o Beta4. Queríamos ver a reação da comunidade inicial, lançando um MVP1, como fez o Dropbox. Todas essas técnicas de startup, não tínhamos quando começamos. Eu nem sabia o que era um MVP, menos Canvas. A única coisa que sabíamos é que queríamos mudar o mundo. A parte positiva de que falam mal, é que aumenta a arrecadação...
Esses endereços não vamos mais utilizar, agora serão outros, mais fáceis de lembrar e escrever. Fizemos testes, e achamos outros mais curtos, e nos testes com usuários deu que achestnut complica para escrever, especialmente para crianças, por isso agora será outro.
Nesse passo “/2” estava o download do driver. Na época que começamos, obrigatoriamente você tinha que instalar um driver, mas agora já não será necessário, pois teremos um USB ID, que será reconhecido sem instalador de driver. Substituímos o passo 1 por um manual básico, tipo aqueles que acompanham os aparelhos eletrônicos: um guia fácil de utilização. Imagine que você nunca mexeu com eletrônica, e alguém te dá o One Dollar Board, queremos que seja uma experiência única, ao não precisar pesquisar para fazer piscar o LED. Depois, ao chegar no passo 8 do guia, surge o estudo.
Para conseguir conectar a placa a uma porta USB é necessário destacar os espaços em que estão escritos os passos 1 e 2, assim o usuário terá que vê-los antes de fazer a primeira conexão.
O passo “/2” é o download da IDE.
Sem modificações.
Não precisa. O Sistema de gravação é feito como se fosse carregar um bootloader. Também não inventamos isso, a placa da Adafruit já faz isso, a que é orientada para vestíveis. Mas ela custa US$ 9,90, e o foco dela são vestíveis.
Isso mesmo.
O importante é o USB ID, que custa 5000 dólares, os quais precisamos arrecadar na campanha para pagar. Tendo um USB ID, o Windows, Linux e Mac reconhecem, o sistema operacional pega da usb.org. Quando você liga alguma coisa, e diz que o CDROM X não é reconhecido, falta ainda o driver, mas ele já sabe que é o CDROM X, porque o USB ID dele está assinado – se não estiver assinado ele vai aparecer como hardware não reconhecido. Nos Windows mais novos, você vai ter que reiniciar o computador sem proteção para usar a placa. Assim, para cada modelo teremos que comprar um USB id da usb.org
Sim. No Linux, como sempre, temos mais liberdade.
Meu sonho é que o Brasil deixe de ser um país produtor de commodities. Na região onde estou, oeste do Paraná, há um potencial gigante... Então o primeiro lugar onde comecei a evangelização do Hardware Livre deu certo: a UTFPR sede Medianeira. Você tem que ver o que sai daí, tudo coisa boa.
Mas eles não transformam em produtos, fica tudo como trabalho da facultade, TCC, e assim vai. Então sempre falo para o pessoal, gente mostrem isso para o mundo, façam em inglês, corram atrás de investidores, mas nada, sempre fica no âmbito acadêmico.
Então resolvi lancar o One Dollar Board assim, para esses estudantes verem que é possível, e assim fazer o mesmo. Tem que ser desse jeito mesmo, mostrar, eles vem, fazem e assim vamos colhendo resultados...
O que pretendo é que daqui a uns meses brotem mais projetos para fora. Então temos que ver o mundo, validar uma ideia no mundo é mais fácil que validar uma ideia para um grupinho, no powerpoint – tem que botar para fazer e anunciar para o mundo.
Sim, está sendo fantástico. Por exemplo, foi a primeira vez que recebi um e-mail da Amazon, falando que vai ajudar no servidor... Isso vai dar uma economia de 9600 dólares, em média, de servidor na nuvem – além de dar mais credibilidade ao projeto.
E a cada vez que aparecemos, aparece mais gente falando de novo, e opinando, e criticando e ajudando a aumentar a arrecadação. Quanto mais gente falar, mais as pessoas entram lá para ver do que se trata. O mundo está cheio de informação, qualquer ação gera uma reação, parece negativa mas termina sendo positiva.
- Minimal Viable Product ↩
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